{"id":2661,"date":"2022-04-27T09:40:44","date_gmt":"2022-04-27T09:40:44","guid":{"rendered":"https:\/\/circulareconomy.pt\/?p=2661"},"modified":"2022-04-27T09:52:47","modified_gmt":"2022-04-27T09:52:47","slug":"a-falacia-da-substituicao-dos-materiais-como-promotora-da-circularidade%ef%bf%bc","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/circulareconomy.pt\/en\/a-falacia-da-substituicao-dos-materiais-como-promotora-da-circularidade%ef%bf%bc\/","title":{"rendered":"A (fal\u00e1cia da) substitui\u00e7\u00e3o dos materiais como promotora da circularidade\ufffc"},"content":{"rendered":"\n
– com a colabora\u00e7\u00e3o de Ana Carvalho<\/a><\/strong><\/em><\/p>\n\n\n\n Os copos de papel s\u00e3o mais verdes que os de pl\u00e1stico? A resposta certa exige pensamento cr\u00edtico e uma abordagem de ciclo de vida. Na segunda edi\u00e7\u00e3o do curso \u201cEconomia Circular \u2013 Metodologias para a Transi\u00e7\u00e3o nas Empresas<\/a>\u201d, continuamos a promover essas ferramentas.<\/strong><\/p>\n\n\n\n Atualmente existe uma grande vontade e press\u00e3o para que todos os cidad\u00e3os sejam mais sustent\u00e1veis, circulares, e\/ou \u201cverdes\u201d \u2013 consoante o conceito que se quer utilizar. E neste momentum<\/em> tamb\u00e9m as marcas se agarram \u00e0 oportunidade de mostrar aos seus clientes todos os esfor\u00e7os (muitas vezes pequenos ou inadequados) que t\u00eam feito em prol do ambiente e da sustentabilidade ambiental. E, para tal, tamb\u00e9m muitas vezes, usam o desconhecimento e ignor\u00e2ncia das pessoas sobre estes t\u00f3picos para construir uma narrativa e promover pr\u00e1ticas que de sustent\u00e1veis n\u00e3o t\u00eam nada ou t\u00eam muito pouco.<\/p>\n\n\n\n Vejamos o caso do conhecido copo de caf\u00e9 descart\u00e1vel. Em Portugal, a pr\u00e1tica \u00e9 utilizar-se loi\u00e7a quando se bebe um caf\u00e9 num restaurante, padaria ou qualquer outro estabelecimento, mas nas m\u00e1quinas autom\u00e1ticas ou no takeaway, as hip\u00f3teses limitavam-se aos copos descart\u00e1veis de pl\u00e1stico. No entanto, nos \u00faltimos anos, o impacte que os pl\u00e1sticos t\u00eam no ambiente e nas pessoas ganhou visibilidade. As marcas, querendo distanciar-se do problema, fizeram o mais f\u00e1cil: substitu\u00edram os copos descart\u00e1veis de pl\u00e1stico por copos de papel. O problema est\u00e1 no facto deste papel ser revestido com uma pel\u00edcula pl\u00e1stica para conferir impermeabilidade ao copo.<\/strong><\/p>\n\n\n\n Ambas op\u00e7\u00f5es t\u00eam impactes ao longo do seu ciclo de vida, ou seja, na extra\u00e7\u00e3o de mat\u00e9rias-primas, na produ\u00e7\u00e3o e na fase de descarte, mas \u00e9 aqui que o greenwashing come\u00e7a. Enquanto copos feitos apenas de pl\u00e1stico podem ser reciclados pelos nossos sistemas de gest\u00e3o de res\u00edduos, o copo de papel com pel\u00edcula de pl\u00e1stico, intitulado de \u201cmonstro\u201d<\/strong> (como se apelidam os produtos que misturam materiais, e, portanto, n\u00e3o permitem a sua correta separa\u00e7\u00e3o e reciclagem), n\u00e3o pode ser reciclado \u00e0 luz da tecnologia que temos atualmente em Portugal<\/strong>. As organiza\u00e7\u00f5es alteram todos os seus copos para estes \u201cmonstros\u201d alegando que s\u00e3o mais sustent\u00e1veis e que s\u00e3o recicl\u00e1veis e na realidade, nem recicl\u00e1veis s\u00e3o! E porqu\u00ea? Porque n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel separar a pel\u00edcula ultrafina de pl\u00e1stico que esses copos cont\u00eam. \u00c9 poss\u00edvel assumir que o sistema de reciclagem de papel \u201caguenta\u201d, sem contaminar o restante papel, alguma quantidade destes copos, mas de forma generalizada estes copos de papel plastificado devem ser colocados no lixo indiferenciado, acabando em aterro. Mais ir\u00f3nico \u00e9 que os copos de pl\u00e1stico monomaterial podem ser reciclados! N\u00e3o estamos a defender que os copos descart\u00e1veis de pl\u00e1stico sejam uma boa solu\u00e7\u00e3o; mas as empresas tamb\u00e9m n\u00e3o podem afirmar que os copos de papel que utilizam massivamente s\u00e3o amigos do ambiente e melhores que os outros.<\/strong><\/p>\n\n\n\n Este \u00e9 um dos muitos exemplos que existem n\u00e3o s\u00f3 do mau design dos produtos, como tamb\u00e9m da falta de conhecimento e informa\u00e7\u00e3o das organiza\u00e7\u00f5es que compram estes copos a pensar que est\u00e3o a melhorar a sustentabilidade; das empresas que os vendem e que alegam sem provas concretas que os mesmos s\u00e3o melhores; e dos utilizadores, que recebem esta informa\u00e7\u00e3o e que tranquilizam as suas mentes achando que est\u00e3o a ser mais sustent\u00e1veis. Este \u00e9 tamb\u00e9m um exemplo daquilo que a economia circular n\u00e3o promove. A economia circular n\u00e3o promove que se substituam materiais por materiais supostamente mais sustent\u00e1veis e circulares, promove sim sistemas que prolonguem a vida dos produtos<\/strong>. Assim, alterar um material de uso comum, demonizado pela sua quantidade e descartabilidade, e substituir por outro que tamb\u00e9m apresenta impactes negativos, e que continua a ser descart\u00e1vel, n\u00e3o \u00e9 verdadeiramente resolver o problema, \u00e9 perpetuar o problema.<\/p>\n\n\n\n O que a economia circular defende s\u00e3o solu\u00e7\u00f5es n\u00e3o descart\u00e1veis, alicer\u00e7adas no ecodesign, que pensam no produto durante as diferentes fases do ciclo de vida<\/strong>, incluindo o seu eventual descarte. S\u00e3o solu\u00e7\u00f5es com base em produtos dur\u00e1veis, incorporando materiais seguros, assentes num sistema de reutiliza\u00e7\u00e3o e de retoma e associadas a uma responsabilidade do produtor.<\/p>\n\n\n\n S\u00e3o estes os conceitos e princ\u00edpios que vamos partilhar e aprofundar nesta segunda edi\u00e7\u00e3o do curso de especializa\u00e7\u00e3o \u201cEconomia Circular \u2013 Metodologias para a Transi\u00e7\u00e3o nas Empresas<\/a>\u201d. Atrav\u00e9s de um conjunto alargado de conte\u00fados, como introdu\u00e7\u00e3o \u00e0 economia circular e aos seus modelos de neg\u00f3cio, \u00e0s ferramentas de circularidade e \u00e0 partilha de exemplos demonstradores deste modelo, pretendemos que os participantes consigam construir um pensamento cr\u00edtico, sist\u00e9mico e robusto<\/strong> e, que sejam capazes de incorporar este pensamento e mudan\u00e7as nos seus contextos profissionais e pessoais.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" – com a colabora\u00e7\u00e3o de Ana Carvalho Os copos de papel s\u00e3o mais verdes que os de pl\u00e1stico? A resposta certa exige pensamento cr\u00edtico e uma abordagem de ciclo de vida. Na segunda edi\u00e7\u00e3o do curso \u201cEconomia Circular \u2013 Metodologias para a Transi\u00e7\u00e3o nas Empresas\u201d, continuamos a promover essas ferramentas. 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