{"id":3525,"date":"2022-10-31T15:39:04","date_gmt":"2022-10-31T15:39:04","guid":{"rendered":"https:\/\/circulareconomy.pt\/?p=3525"},"modified":"2022-11-09T09:04:30","modified_gmt":"2022-11-09T09:04:30","slug":"penso-logo-habito-arquitetura-participada-e-sustentavel","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/circulareconomy.pt\/en\/penso-logo-habito-arquitetura-participada-e-sustentavel\/","title":{"rendered":"Penso, logo habito: arquitetura participada e sustent\u00e1vel"},"content":{"rendered":"\n

O edificado consome 40% da energia produzida na Europa. Da extra\u00e7\u00e3o e processamento dos materiais de constru\u00e7\u00e3o ao aquecimento dos espa\u00e7os, a pegada carb\u00f3nica e material dos lugares onde vivemos e trabalhamos \u00e9 imensa. Ao mesmo tempo, 19% da popula\u00e7\u00e3o portuguesa vive em situa\u00e7\u00e3o de pobreza energ\u00e9tica, muitas vezes em casas de baixa qualidade, com repercuss\u00f5es na sa\u00fade. E o setor da constru\u00e7\u00e3o \u00e9 dos menos circulares no nosso pa\u00eds; tanto o ecodesign como a reutiliza\u00e7\u00e3o e a reciclagem de materiais de constru\u00e7\u00e3o s\u00e3o muito incipientes.
A transi\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica exige novas formas de habitar. Qual \u00e9 o papel da arquitetura neste processo? No \u00e2mbito do Festival Umundu, organiz\u00e1mos uma conversa sobre o tema. Connosco na bela biblioteca de Alc\u00e2ntara estiveram Samuel Kalika<\/strong>, da Critical Concrete<\/a>, e R\u00faben Teodoro<\/strong>, do Coletivo Warehouse<\/a>.<\/strong> [Foto de capa: Critical Concrete].<\/p>\n\n\n\n

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@ Pierre Fran\u00e7ois Docquir<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n\n\n\n
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@ Pierre Fran\u00e7ois Docquir<\/figcaption><\/figure>\n<\/div>\n<\/div>\n\n\n\n

Renovar e reabilitar: da pobreza energ\u00e9tica \u00e0 riqueza do di\u00e1logo<\/h3>\n\n\n\n

90 % dos portugueses n\u00e3o t\u00eam conforto t\u00e9rmico em casa. N\u00e3o s\u00e3o apenas as pessoas em situa\u00e7\u00e3o de pobreza que conhecem os invernos das mantas e da humidade; a m\u00e1 qualidade do edificado \u00e9 geral e afeta tamb\u00e9m as classes m\u00e9dias<\/strong>. Esta entrevista<\/strong><\/a> do investigador Jo\u00e3o Pedro Gouveia (CENSE \u2013 UNL) \u00e9 esclarecedora. S\u00f3 no in\u00edcio dos anos 90 \u00e9 que Portugal produziu regulamentos para as caracter\u00edsticas t\u00e9rmicas das constru\u00e7\u00f5es (isolamento, ventila\u00e7\u00e3o, produ\u00e7\u00e3o de energia), quando outros pa\u00edses europeus se tinham dotado desses instrumentos d\u00e9cadas antes. Assim, o boom de constru\u00e7\u00e3o a que assistimos nos anos 80 e 90 resultou num parque habitacional sem isolamento, com vidros simples e sem solu\u00e7\u00f5es de climatiza\u00e7\u00e3o integradas.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso renovar e reabilitar.<\/strong> N\u00e3o s\u00f3 para melhorar o desempenho material e energ\u00e9tico dos edif\u00edcios, mas tamb\u00e9m para devolver \u00e0s cidades os seus pr\u00e9dios degradados e devolutos \u2013 espa\u00e7os desaproveitados que empurram pessoas para a periferia, com custos energ\u00e9ticos e de qualidade de vida. Esta necessidade est\u00e1 presente em v\u00e1rias regi\u00f5es da Europa, e por isso a UE quer promover at\u00e9 2030 uma Renovation Wave<\/strong><\/a>.<\/p>\n\n\n\n

No PRR (Plano de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia) portugu\u00eas, h\u00e1 verbas importantes a serem disponibilizadas neste \u00e2mbito. Trata-se, por um lado, de melhorar o desempenho material e energ\u00e9tico dos edif\u00edcios, e por outro, mais importante, de fomentar o acesso \u00e0 habita\u00e7\u00e3o, nomeadamente habita\u00e7\u00e3o a custos acess\u00edveis.<\/strong> O patrim\u00f3nio p\u00fablico devoluto do Estado, que \u00e9 significativo e dever\u00e1 ser reabilitado para esse fim, tem uma linha de financiamento dedicada. Diz o plano que \u201ca promoc\u0327a\u0303o de construc\u0327a\u0303o nova deve proporcionar um patamar de necessidades de energia, no mi\u0301nimo, 20% mais exigente que os requisitos NZEB (Nearly Zero Energy Building), no que respeita ao consumo de energia prima\u0301ria, bem como, no caso de obras de reabilitac\u0327a\u0303o, uma melhoria do desempenho energe\u0301tico dos edifi\u0301cios.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A Critical Concrete conhece bem as defici\u00eancias da habita\u00e7\u00e3o em Portugal, sobretudo no Porto e arredores, nos bairros de baixos rendimentos que constituem o seu terreno de a\u00e7\u00e3o preferencial. Em projetos que contam normalmente com o envolvimento de autarquias e da popula\u00e7\u00e3o residente, planeia e executam interven\u00e7\u00f5es de melhoria de espa\u00e7os residenciais e p\u00fablicos. Ao bet\u00e3o e alvenaria preferem materiais biog\u00e9nicos<\/strong> (e de desempenho t\u00e9rmico superior) como a madeira e o c\u00e2nhamo<\/strong> \u2013 o que n\u00e3o deixa de provocar estranheza junto dos benefici\u00e1rios das interven\u00e7\u00f5es. \u00c9 mais um entre os muitos temas do di\u00e1logo entre arquitetos e usu\u00e1rios, a tal dimens\u00e3o participada que pauta o trabalho tanto da Critical Concrete como do Coletivo Warehouse.<\/p>\n\n\n\n

Falou-se muito de participa\u00e7\u00e3o e dos seus desafios. Convidar o futuro usu\u00e1rio de um espa\u00e7o (p\u00fablico) a participar na sua conce\u00e7\u00e3o n\u00e3o se resume a perguntar-lhe o que deseja. \u00c9 preciso previamente abrir horizontes<\/strong> (trazer possibilidades para cima da mesa, romper as barreiras do que \u00e9 familiar) e dispor de instrumentos (imagens, din\u00e2micas l\u00fadicas) que facilitem a formula\u00e7\u00e3o desses desejos. Num projeto para uma biblioteca escolar no Senegal, os arquitetos do Coletivo Warehouse come\u00e7aram por p\u00f4r as crian\u00e7as a desenhar a planta da biblioteca existente, para as familiarizar com a linguagem visual da arquitetura.<\/p>\n\n\n\n

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