{"id":962,"date":"2020-03-10T16:18:00","date_gmt":"2020-03-10T16:18:00","guid":{"rendered":"https:\/\/circulareconomy.pt\/?p=962"},"modified":"2023-06-30T12:29:10","modified_gmt":"2023-06-30T12:29:10","slug":"o-sistema-alimentar-numa-economia-circular","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/circulareconomy.pt\/en\/o-sistema-alimentar-numa-economia-circular\/","title":{"rendered":"O Sistema Alimentar numa Economia Circular"},"content":{"rendered":"
O que \u00e9 que a alimenta\u00e7\u00e3o e a agricultura t\u00eam a ver com economia circular?<\/strong> A rela\u00e7\u00e3o vai muito al\u00e9m das quest\u00f5es do desperd\u00edcio alimentar e da compostagem. A economia circular baseia-se no uso sustent\u00e1vel de recursos naturais e no respeito pelos limites do planeta. A ind\u00fastria agroalimentar, que tem uma imensa pegada ambiental, \u00e9 um sector priorit\u00e1rio para aplicar princ\u00edpios circulares. Por essa raz\u00e3o, a Circular Economy Portugal (CEP) est\u00e1 a organizar o festival Alimenterra<\/a> (27-29 Mar\u00e7o) dedicado a um sistema alimentar circular e sustent\u00e1vel. Filmes, debates e atividades v\u00e3o ajudar-nos a perceber os impactos das atuais formas de produzir e consumir alimentos, e inspirar-nos a redesenhar o sistema alimentar.<\/strong><\/p>\n A agricultura industrial moderna preocupa-se bem mais com lucro a curto prazo do que com o valor a longo prazo para a sociedade e o ambiente. \u00c9 verdade que, gra\u00e7as a ela, foi poss\u00edvel aumentar exponencialmente a produtividade e alimentar uma popula\u00e7\u00e3o crescente a pre\u00e7os<\/a> muito baixos. Mas os custos ambientais e sociais \u2013 as chamadas externalidades \u2013 foram imensos. Alguns exemplos: a eros\u00e3o1<\/sup> e a perda de biodiversidade resultantes do uso insustent\u00e1vel do solo<\/a> ; a escassez de \u00e1gua decorrente de uma irriga\u00e7\u00e3o ineficiente (em Portugal, a agricultura \u00e9 o maior consumidor de \u00e1gua2<\/sup>); e a polui\u00e7\u00e3o<\/a> e os gases com efeito de estufa3<\/sup> associados ao uso de grandes quantidades de produtos qu\u00edmicos e combust\u00edveis f\u00f3sseis.<\/p>\n Em termos sociais, devido ao desequil\u00edbrio de poder na cadeia de abastecimento<\/a>, que beneficia sobretudo os supermercados, muitos agricultores (especialmente nos pa\u00edses em desenvolvimento) n\u00e3o recebem um sal\u00e1rio decente. Aqueles que desejam cultivar de forma sustent\u00e1vel, em pequena escala, n\u00e3o recebem apoio (financeiro) suficiente, uma vez que os subs\u00eddios da Uni\u00e3o Europeia se baseiam no n\u00famero de hectares produtivos. Em geral, os agricultores e os seus produtos s\u00e3o subvalorizados na nossa sociedade. Os consumidores est\u00e3o habituados a uma oferta de comida barata e abundante, e ignoram o esfor\u00e7o necess\u00e1rio para a colocar nos nossos pratos. Em 2015, as fam\u00edlias portuguesas despenderam apenas 14,3% do seu or\u00e7amento em comida, significativamente menos do que em anos passados4<\/sup>.<\/p>\n Claramente, este modelo \u00e9 altamente insustent\u00e1vel e n\u00e3o pode continuar a longo prazo.<\/strong> Um novo modelo \u00e9 necess\u00e1rio. N\u00e3o se trata apenas de promover a efici\u00eancia de recursos na produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, mas p\u00f4r a agricultura a fortalecer os ecossistemas naturais e a biodiversidade, assegurando rendimentos adequados aos agricultores. Isto implica restruturar integralmente o modelo econ\u00f3mico e a cadeia de valor, bem como as mentalidades das empresas e dos consumidores.<\/p>\n Nesta transi\u00e7\u00e3o, as cidades e seus consumidores urbanos t\u00eam um papel fundamental a desempenhar uma vez que 80% dos alimentos ser\u00e3o consumidos em cidades em 2050. Por esta raz\u00e3o, o festival Alimenterra quer sensibilizar a cidade de Lisboa. Como plataforma para discuss\u00e3o, o Alimenterra pretende reunir os stakeholders<\/em> relevantes \u2013 n\u00e3o apenas produtores e consumidores, mas tamb\u00e9m acad\u00e9micos eorganiza\u00e7\u00f5es (n\u00e3o-)governamentais.<\/p>\n Na publica\u00e7\u00e3o \u201cCities and Circular Economy for Food<\/a>\u201d, a Funda\u00e7\u00e3o Ellen MacArthur delineou os principais desafios para o sistema alimentar. Tudo come\u00e7a com a produ\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel (baseada na agroecologia<\/a>) e a distribui\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s de cadeias de abastecimento curtas<\/a>, apoiando a produ\u00e7\u00e3o local e usando o m\u00ednimo de embalagens<\/a>. Em segundo lugar, o desperd\u00edcio alimentar pode ser evitado atrav\u00e9s da redistribui\u00e7\u00e3o, enquanto as estrat\u00e9gias de bioeconomia<\/a> ajudam a transformar subprodutos em fertilizantes org\u00e2nicos, biomateriais e medicamentos. Por \u00faltimo, os produtos alimentares saud\u00e1veis e sustent\u00e1veis devem ser facilmente acess\u00edveis a todos e n\u00e3o apenas a uma elite rica.<\/p>\n Do campo ao garfo, mudan\u00e7as fundamentais ter\u00e3o de acontecer. Por onde come\u00e7ar neste sistema t\u00e3o complexo? Primeiro, \u00e9 necess\u00e1ria uma vis\u00e3o comum sobre alimenta\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel a n\u00edvel europeu, nacional e da cidade. A Comiss\u00e3o Europeia anunciou recentemente a \u201cFarm to Fork Strategy<\/a>\u201d, e a n\u00edvel nacional h\u00e1 a \u201cEstrat\u00e9gia Nacional para a Agricultura Biol\u00f3gica<\/a>\u201d e o \u201cRoteiro para a Neutralidade Carbonica 2050<\/a>\u201d. Mas isto ainda fica aqu\u00e9m do necess\u00e1rio. Para al\u00e9m das vis\u00f5es te\u00f3ricas, s\u00e3o precisos programas ambiciosos com medidas concretas que fa\u00e7am a diferen\u00e7a na pr\u00e1tica e n\u00e3o apenas no papel. Esta diferen\u00e7a j\u00e1 est\u00e1 a acontecer pela m\u00e3o de muitos pioneiros \u2013 que estar\u00e3o em destaque durante o Alimenterra.<\/p>\n Lisboa \u00e9 capital verde europeia neste ano de 2020, e o munic\u00edpio \u2013 que \u00e9 membro da Food Initiative<\/a> da Funda\u00e7\u00e3o Ellen MacArthur, e nosso parceiro neste festival \u2013 tem estado atento ao tema da alimenta\u00e7\u00e3o. As pol\u00edticas e iniciativas municipais de alimenta\u00e7\u00e3o s\u00e3o uma alavanca fundamental para mudar o sistema, tendo como pontos fulcrais os crit\u00e9rios de sustentabilidade das compras p\u00fablicas no setor alimentar, a promo\u00e7\u00e3o de circuitos curtos de distribui\u00e7\u00e3o e da produ\u00e7\u00e3o local, o est\u00edmulo \u00e0s dietas pobres em carne, e a preven\u00e7\u00e3o do desperd\u00edcio. Nestas \u00e1reas, sociedade civil e eco-empreendedores desenvolvem trabalho valioso que muito beneficiaria com o apoio ainda mais forte da CML. Encorajamos o munic\u00edpio a levar o mais longe poss\u00edvel esta capital verde, investindo ao m\u00e1ximo na concretiza\u00e7\u00e3o de um sistema alimentar circular e sustent\u00e1vel.<\/p>\n Com o Festival Alimenterra, a Circular Economy Portugal quer mostrar que a principal alavanca para um planeta saud\u00e1vel \u00e9 uma alimenta\u00e7\u00e3o alinhada com os seus ritmos e recursos.<\/p>\n","protected":false},"author":6,"featured_media":965,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[13],"tags":[20,21,29],"class_list":["post-962","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-alimentacao","tag-agricultura","tag-alimenterra","tag-sistema-alimentar"],"acf":[],"yoast_head":"\n\n