Bussola da circularidade

Circular ou Colapsar: A coesão partidária que o presente exige

Neste Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho de 2025, e com a eleição do novo governo, ao mesmo tempo que pisamos num contexto de crescente polarização política, há temas que transcendem ideologias e disputas partidárias e exigem consensos firmes. A transição para uma economia circular é um desses temas. Tal como ninguém contesta que a Terra é redonda, também não deveria haver dúvidas sobre a urgência de reformular o nosso modelo económico linear, “esgotador” e insustentável.

Portugal enfrenta um atraso significativo nesta matéria. Segundo dados da Eurostat de 2023, a taxa de circularidade nacional que mede a percentagem de recursos materiais reciclados e reutilizados na economia, é de apenas 2,8%, muito abaixo da média europeia de 11,8%, e de países como Itália 20,8% e os Países Baixos 30,6%. O uso ineficiente de recursos e dependência de matérias primas sugere uma forte exposição a riscos geoestratégicos. Esta realidade reflete-se na ausência de uma estratégia nacional clara e atualizada para a economia circular. A CEP espera que com o novo governo, o Novo Plano de Economia Circular seja finalmente divulgado e implementado com urgência. Sem uma visão estratégica definida, torna-se difícil coordenar os diversos stakeholders, e ressente-se a ausência de instrumentos eficazes para orientar a mudança sistémica necessária – uma mudança que precisa de ser rápida, eficiente e ambiciosa.

Durante a pandemia de COVID-19, assistimos a uma colaboração inédita entre partidos políticos para enfrentar a crise sanitária. Essa união demonstrou que, perante desafios coletivos, é possível colocar o interesse comum acima das divergências partidárias. A crise ambiental e económica que enfrentamos exige a mesma determinação e cooperação.

A economia circular não é apenas uma questão ambiental: é uma estratégia para fortalecer a resiliência económica, reduzir a dependência de recursos externos e promover a inovação. Para tal, é essencial que haja um compromisso transversal entre partidos, setores económicos e sociedade civil. As empresas, segundo o Parlamento Europeu, podem poupar entre 250 e 465 mil milhões de euros por ano em custos com matérias-primas, ou seja, 12% a 23% dos seus custos com materiais.

A construção de uma economia circular deve ser uma prioridade nacional, sustentada por políticas corajosas, coesão partidária, investimentos estratégicos e uma visão de longo prazo que transcenda ciclos eleitorais.

A urgência é clara. O momento de agir é agora.

Ana Matos Almeida
Presidente da Circular Economy Portugal

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