Foto: Marco Verch, CC 2.0

Sistemas de reutilização para embalagens: os benefícios superam os desafios

Por encomenda da Rethink Plastic, a CEP realizou recentemente um estudo sobre os benefícios e desafios dos sistemas de reutilização de embalagens. Neste artigo mostramos o potencial desses sistemas e identificamos políticas públicas que podem estimular o seu uso em toda a Europa.

As embalagens reutilizáveis, como por exemplo os recipientes para alimentos e bebidas, têm estado em declínio na Europa há décadas. As embalagens de plástico de utilização única que as substituíram têm um impacto considerável sobre o ambiente. Mas é possível (r)estabelecer sistemas de reutilização, indo ao encontro dos princípios da economia circular e colhendo benefícios para o ambiente, as pessoas e a economia.

Em primeiro lugar, se adequadamente implementados, os sistemas de reutilização utilizam menos recursos – se reutilizarmos uma embalagem de plástico, não temos de extrair a matéria virgem necessária para fazer uma nova. Em segundo, ao prevenir resíduos, os sistemas de reutilização diminuem os custos da sua gestão. Em terceiro, as embalagens reutilizáveis podem ter um efeito positivo na imagem de marca e fidelizar consumidores. Por toda a Europa há experiências prometedoras, com diferentes produtos e modelos de negócio. Para as ficar a conhecer, nada mais simples – leia o nosso estudo!

Benefícios ambientais e socioeconómicos

Três grupos de produtos mostram grande potencial para os sistemas de reutilização:

  • Alimentos e bebidas (canal horeca)
  • Moda (venda online)
  • Produtos de limpeza (grande distribuição)

Com base numa análise do ciclo de vida (LCA), calculámos que para estes grupos de produtos os sistemas de reutilização podem ter entre 3 a 13 vezes menos impacto ambiental do que os sistemas de utilização única.

Para ampliar os sistemas de reutilização em toda a UE, a revisão da Diretiva Embalagens e Resíduos de Embalagens deverá adotar objetivos concretos de reutilização.

Um objetivo de reutilização de 50% até 2030 para os grupos de produtos mencionados acima poderia equivaler às seguintes poupanças ambientais a nível da UE:

  • 10 mil milhões de metros cúbicos de água
  • 28 milhões de toneladas de matéria-prima
  • 3,7 milhões de toneladas de CO2

Além disso, a poupança económica para toda a UE poderia ser superior a 16 mil milhões de euros até 2030. O impacto social pode também ser significativo a vários níveis, com a criação de emprego devido a atividades adicionais relacionadas com a recolha, lavagem e logística (inversa).

Desafios

Existe claramente um grande potencial para sistemas de embalagem reutilizáveis, mas existem também muitos desafios.

Em primeiro lugar, para que as embalagens reutilizáveis tenham uma pegada ambiental inferior à de uma utilização única, é importante que se atinja um número mínimo de ciclos de utilização. Isto requer uma logística (recolha, lavagem e distribuição) eficaz. Para reduzir as despesas de capital (por exemplo, a produção e compra de embalagens reutilizáveis) e os custos operacionais (associados à recolha, lavagem e transporte), uma economia de escala é necessária.

Um elemento crucial para alcançar taxas de retorno elevadas é um depósito sobre as embalagens reutilizáveis, para que os consumidores as devolvam. No final, os sistemas de reutilização só são eficazes quando todos os intervenientes da cadeia de valor participam. É particularmente importante que as empresas colaborem para normalizar as dimensões das embalagens, criando assim economias de escala e reduzindo os custos operacionais.

Recomendações políticas

Para ampliar os sistemas de reutilização, é necessária uma mudança sistémica a todos os níveis, impulsionada por um quadro político de apoio e incentivos financeiros.

Objetivos de reutilização vinculativos estimularão os investimentos das empresas em sistemas e infraestruturas de reutilização. Propomos os seguintes objetivos para as embalagens reutilizáveis:

  • Copos reutilizáveis: pelo menos 75% até 2030;
  • Recipientes de comida (take away): pelo menos 50% até 2030;
  • Detergentes de roupa (grande distribuição): pelo menos 20% até 2030.

Para distinguir eficazmente as embalagens reutilizáveis das embalagens de utilização única, as políticas devem formular uma definição clara de embalagens reutilizáveis, bem como um conjunto de requisitos e orientações para a conceção circular e sistemas de reutilização.

Idealmente, os objetivos acima seriam adotados pelos esquemas de Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) atualmente em vigor para as embalagens, assim como por iniciativas participadas pela indústria (como o Pacto Português para os Plásticos).

O canal horeca deveria obrigatoriamente oferecer aos seus clientes embalagens reutilizáveis, tanto para consumo no local como para levar. As políticas nacionais deveriam também obrigar as plataformas de venda online e os retalhistas (no caso dos detergentes) a disponibilizar alternativas reutilizáveis. Para apoiar as empresas durante a transição é importante prever incentivos económicos e instrumentos fiscais (p. ex. taxa sobre plásticos de uso único), assim como subsídios ou linhas de cofinanciamento. Os esquemas de RAP podem ser adaptados para custear parcialmente estas medidas.

Leia o nosso estudo na íntegra aqui.

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